"Não há grandes poetas nem grandes poemas; há palavras que nos agarram no momento certo. só isso."

Gil T. Sousa


quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Quando existem noites


que valem por dois dias sem ti
eu fico feliz...
e não me importo de partilhar o crepe contigo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Eu sei que te posso encontrar no fundo do mar...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sussurros transparente entre estrelas cadentes


Foi em 1952 a partida para a longa viagem. Não sabia onde ficava a estação pouco menos a paragem de autocarro. Nunca tinha precisado de tais meios de transporte. A teimosia era mais forte que o corpo, então os ponteiros do relógio encaminharam os seus passos. Foi à deriva, como barco na branca espuma. A rota não era feita de mapas, talvez de sentimentos e desejos. Só queria poder ver todas as estrelas que existiam no céu sem ter a luminosidade da sociedade. Conseguir diferenciar o brilho de cada uma, e contar os segredos a cada uma delas em sussurros transparentes. Tentar saber se elas também guardavam segredos para o seu ouvido enriquecer. Podia ser que alguém do outro lado do mundo, conta-se também seus segredos ás infinitas luzes do céu e espera-se por um milagre, um sinal na infinita escuridão. Mas as respostas nunca vieram. E as sombras nunca pareceram as mesmas.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Era uma vez...

Era uma vez uma rainha com chapéu de cisne. Era uma vez um rei com cara de peixe.
Que tinham nascido de um traço de carvão. E viviam felizes na folha quadriculada do coração.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vendedor de flores

Dez da manha e a porta ainda estava fechada. Todos que por lá passavam encaixavam a hipótese de ter adormecido, mas acham muito estranho. Três da tarde e o cantinho das flores ainda tinha a porta trancada com as persianas fechadas.

Sua loja, não tinha hora de abertura e de fecho. Vendia as suas flores por amor e não por dinheiro. Por isso, acordava cedo para viajar até o seu cantinho. Vendia suas flores para cobrir as ruas de pregões de amor eterno.
Era um vendedor de flores, que sabia ao certo corresponder a cada espinho pregado no coração de alguma alma desesperada para com a sua flor pedir um perdão. Correspondia aos homens apaixonados, que iam em busca da melhor flor, a mais forte e esplêndida para dar a sua parceira num dia especial. Vivia numa zona piscatória, muitas já foram as vezes que floriu corações de amargura de esposas que sofreram com a morte dos seus queridos pescadores no alto mar. Sabia, sempre qual a flor que correspondia a cada pessoa mesmo antes de ela o dizer. Gostava do que fazia, e era muitas as vezes que ensinava os seus filhos a tratar de cada pétala de flor. “Um vendedor de flores a ensinar seus filhos a escolher seus amores”.
Quando sentia que suas flores necessitavam de carinho, fechava sua loja, sem se quer olhar para o relogio. Dedicava seu tempo a elas, retirava as folhas secas , regava com todo o seu amor e delicadeza. As flores são frágeis, sensiveis, sempre disse aos seus filhos que as flores são belas concluindo que belas são as coisas frágeis.
Sentado na sua candeira de baloiço, contemplando as flores relembrava uma tarde de inverno, à muito tempo atrás. Ainda era novo de carreira, nem tinha um cantinho como hoje tinha, por isso vendia seus ramos pela rua. Nessa tarde fria, encostou-se a uma árvore. O dia não tinha sido muito bom e já pensava ir para sua casa. Quando do outro lado da rua viu uma mulher a acenar. Quando ele a percebeu, ela mudou de gesto, e apontava para ele. O vendedor de flores olhou-se. Era o ramo. Ele mostrou-o, erguido em frente de si. Isso mesmo, ela confirmava com um sorriso nos lábios e nos olhos. O próximo gesto viera depois do sorriso. Ela coçava o indicador com o polegar de uma das mãos. Dinheiro. Ele olhou as flores. Olhou o céu e reflectiu, negou. Negou, com um gesto firmo do dedo indicador. E ergueu de novo o ramo em direcção à mulher. Não entendeu, ergueu os ombros e as palmas da mão. Quando o sinal vermelho deu lugar ao verde para os piões, ela deslocou-se ao vendedor. Encontraram-se os dois no meio da calçada. Não vende? Não posso, não são minhas. Ah. Olhava decepcionada. São suas. Ela colheu-as no seu peito e agradeceu. Nunca mais viu esta mulher, mas sabia que um dia a tinha feito feliz e isso alegra seu peito de flores.
Casou, passado muito tempo.
E hoje, estava casado à vinte e cinco anos. Na sua loja, enquanto sentado e a relembrar aquele dia tão feliz reconheceu gestos familiares, olhares comuns e não acreditou. Fechou a sua loja e correu até sua mulher e perguntou se algum dia um vendedor lhe tinha dado um ramo. Ela confirmou, com o olhar.

domingo, 10 de maio de 2009

Marinheiro dos sonhos

Na noite adormecida ela dançava como bailarina. A melodia do vento enchia o seu corpo, sentia-se bailarina sem nunca ter bailado ao som de um acorde. Quando o seu corpo não aguentava mais nenhuma rodada no vazio, encostava-se á parede fria da sua sala. Imaginava o seu marinheiro de sonhos a chegar de uma noite fria e inquieta. Teria ela medo de sozinha se deitar na sua cama. Nunca perdeu aquele medo de pequena, encontrar o bicho papão debaixo da cama. Então dançava pela escuridão da noite a dentro à espera que a luz da madrugada deixasse visível cada passo cada gesto, recolhendo-se então para sua cama. Sempre acreditou que a luz da noite trazia o bicho papão para debaixo da cama e com o raiar do dia ele desaparecia.
E encostada à parede fria ela continuava a pensar no seu marinheiro de sonhos. Não se importava das suas mãos ásperas de tanto trabalhar ou dos rasgões de anzóis ancorados na pele queimada de tanto sol apanhar.
Nos primeiros raios da madrugada recolhia-se então para os seus lençóis cor do mar e com a sua almofada acreditava que um dia nessa mesma almofada iria encontrar um pouco de sal da noite passada com o seu marinheiro de sonhos.

domingo, 26 de abril de 2009

Viajante sem mala nem mapa

Divagar no puro sentimento como navio no imenso mar.
No vaguear da noite encontra-se o verdadeiro sentimento, absorvido pela raiz dos sonhos. O corpo cansado, do dia recordado nesta noite cerrada, que se sente a claridade. A valsa dos sonhos é então dançada, com os acordes do coração.
É então, que os sonhos começam a comandar a vida como criança que pula com balões na mão. Na ausência de vozes, de barulhos excessivos e do ruído de todos os dias que se ama a quietude das coisas, o som do vento, o vagar do mar, o fim da tarde, o torpor do poente.
Do imenso terraço onde não chegam vozes e o silêncio se estende sobre as coisas, vê-se o infinito. Um mundo de luz e sombras que se desvanece até ninguém poder dizer onde acaba a terra e começa o céu.
É um viajar no tempo, onde o tempo nem sequer tem horas. É um viajar sem mapa, procurando o desconhecido sentido, destino.
Uma fuga desenfreada e uma pressa incompreensível, desatada numa correria. Um medo como veia dilatada, aparece depois da coragem de se levantarem. Ter a certeza de alguma coisa é extremamente impossível. Tudo é possível e tudo é permitido, tudo sucede em alternância. Abre se a porta para a viagem, decifrando a matéria que é mais do que matéria, a que chamamos corpo. E querendo acreditar na voz que nos canta às escuras até adormecermos.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tranquilidade do final da tarde

Derramar da alma no desembruxar da onda
Planície de areia
Com ervas rasteiras num voo ritmado
Onde o vento quebra ligações.
Uma espera contínua
Pela primeira estrela, reflectida
No luar como sol no mar
Reflexo de espelho
Perfumado de natureza rara.
Um ir e vir
Sem hesitação
Arrastando areias
Cintilantes
À procura de novos caminhos.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Por favor, o teu «para sempre» diferente de todos os outros

Não é um ano, nem dois ou três
Não quero este tipo de para sempre
Para sempre, que aparece no inicio
Mas nunca vem num final
É um para sempre das tuas palavras
Por favor, o teu para sempre.

Todos perdem muito tempo
Às voltas na cidade
Deixando voar os seus para sempre
Mas eu não quero que isso me aconteça
E agora espero poder encontra-lo em ti
É um para sempre das tuas palavras
Por favor, o teu para sempre.

Como um relógio sem ponteiros
Infinito tempo
Para sempre, sempre aparece no início
Mas nunca vem no final.
É um para sempre das tuas palavras

Por favor, o teu para sempre.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Hora de ponta com colisão de corpos

Alguns ainda deixam seus carros amarrados ao cais deixando-se levar pelas linhas cinzentas onde o metro percorre dias sem conta.
Desenho as alçadas do teu corpo entre os carris.
Outros preferem a condução do próprio veículo, esquecendo-se da condução dos seus sentimentos.
Cumprir os acabamentos teus de aço polido no meu alcatrão duro. É um ir atrás, deixando tudo a monte e depois arrasar a terra, planar e planear. É abraçar-te sem ninguém perceber quando passarmos entre gentes, despercebidos. E iluminar as linhas cinzentas e indígenas do nosso metro.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

o tempo errado dos amores

Sonhos de criança no bolso da bata aos quadradinhos.
Correria nos recreios, princesa e príncipe nos jogos da escola.
Cartas amorosas escondidas.

Sonhos na palma da mão, como se fosse balões presos por fios de prata.
Criança pequena sem desejo de o ser, com meia dúzia de sonhos tolos na mão
Descoberta do paralelismo entre o choro e o sal.

Criança cresce, suas mãos também e há uma maior capacidade para
segurar os sonhos.
Desejado pela criança nascida, indesejada para crescidos.

É uma descoberta do coração mais pequeno para os sonhos e maior para os medos.
Sonhos deixam de ser balões.
Desejo dos sonhos de novo na bata aos quadradinhos.
A pergunta ficará,
Como é que a criança com a sua mão tão pequena segura muitos mais sonhos que a vossa?

Silêncio como resposta, só provocará sorriso triste à criança que já esteve em vós e
estará…

Ela estará sempre a acreditar que entre o correr silencioso de uma lágrima, podemos sempre encher mais balões.

terça-feira, 7 de abril de 2009

amor...

"...fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor. eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer. o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos. o amor é ter medo e querer morrer..."

J.P

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Menina tradição

A dança da roupa com o vento perfuma o recanto com o sabão tão natural da minha infância. Degrau a degrau é uma doméstica correria. Com o “pico pico maçarico quem te deu tamanho o bico” nas lembranças do meu Minho e a cafeteira com café ainda a ferver molho o biscoito e numa trinca saboreio a nossa senhora florescente e muitas fotografias a preto e branco ao lado da prateleira.
Em cima da mesa está uma única peça de roupa, amarelada de tanto tingir, para mais tarde remendar. Talvez depois de um final feliz da telenovela que aquece as rugas de tardes inteiras a cavar e a semear em cada estação vinda.
Num corococó, vindo de lá de fora da minha infância, acordo e fujo sem ninguém dar conta. Consome-me já uma saudade melancólica da tradição que existe à minha volta, como a falta que se sente de alguém que se sabe que se vai perder, mesmo ainda não o tendo, de facto, perdido e ainda o tendo nos braços.

Quando sorris os teus olhos parecem infinitos campos verdes

O pôr-do-sol aproximava-se como naquele dia que ficamos sentados à sua espera. Aquela hora do dia era tão perfumada tão reflectida. Parávamos e contemplávamos o reflexo da nossa felicidade. Beijavas-me, abraçavas-me e tornávamo-nos únicos. Entre os últimos raios que conseguiam ultrapassar a linha do horizonte eu olhava para ti. A beleza dos teus olhos fechados, das tuas pestanas negras e compridas, não cabe nas palavras.
Estava a olhar para o reflexo em que dias meus cobriram a minha pele em mil sóis.
No meu quarto a janela está semiaberta à espera de um clarão na escura madrugada. Acordo muitas noites com barulhos, vindos de lá de fora, imagino a tua subida pelas grades acima. Depois de uma espreitadela vejo um gato a virar a esquina. E as estrelas caem e vão para a gaveta. E os monstros escondem-se no meu armário.
Como numa historia de encantar, eu deixo a janela aberta à espera que o príncipe entre e me prometa felicidade para sempre. "Porque é que nas histórias de Príncipes e Princesas nunca contam o medo que ambos sentem com a possibilidade de se perderem?"

Mil e um beijos quero de ti. Deita-te a meu lado, rasguemos a noite com os nossos corpos. Nem os lírios têm olhos tão doces, afagarei os teus com os meus dedos, e adormeceremos na certeza da perfeição.

domingo, 5 de abril de 2009

Sinto-me fria


Afastaste-te de mim
e levaste o sol contigo

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A rainha e a corte real aplaudiu, adorou... mas eu só quero o meu troféu de volta


Pesquisando como serei, sozinha, a rainha do meu coração. Ontem, no meu sonho, encontrei o bom amor. E o meu coração pegou fogo como uma casa, onde o bombeiro corre para o apagar. No sonho, foi o mágico que socorreu e apagou as chamas vermelhas. O troféu que eu fiz para nós de pele de animal e ouro foi vendido, caiu em mãos erradas. E todo o homem que o tocou achou um paraíso na terra.
Paraíso é um sentimento que eu sinto nos teus braços.
Eu desejo o nosso troféu de volta. Não para vender, mas para colocar no meu coração e ambos podermos admirar.
Photograph: Sarah Lee

domingo, 29 de março de 2009

o amor entre almofadas

Foram muitas as vezes que me disses-te: os teus olhos são como o oceano. Sempre acreditei. Acreditei porque ao teu lado tudo é possível.

A felicidade tem a temperatura do teu colo. A chuva a fechar a noite, os cobertores a aquecerem-nos o coração. A tua mão no meu cabelo. O mar podia entrar agora pelo chão da sala, invadir o sofá, que nem assim eu acordaria.

sábado, 28 de março de 2009

Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo


Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo
é tudo serem para mim estradas largas
estradas onde passa o sol poente
é o tempo parar e eu próprio duvidar mas sem pensar
se o tempo existe se existiu alguma vez
e nem mesmo meço a devastação do meu passado

Imagem: Sebastien Maziére

Poema: Ruy Belo

domingo, 15 de março de 2009

Quando as personagens ganham vida

Na noite quente de inícios de primavera, a janela do quarto semiaberta deixa entrar ares que beijam a minha face. Descubro a vida das personagens das minhas histórias de encantar. É nestas noites que consigo sentir o coração deles a bater, os seus medos e anseios. Deixam de ser meros produtos da imaginação, eles ganham vida própria como bolhas de sabão que se desprendem do criador e alçam vôo na atmosfera, até que estouram e desaparecem, como ocorre com o final de um livro.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Tiradas pelas ruas e ruelas da minha existência

Era fim do dia e nas ruas estreitas, onde as casas seguram o céu, as caras de sempre têm dias sorridentes e outros sisudos porque dias felizes e tristes, todos têm. Em todas as calçadas da vila as sombras estavam reflectidas. É a percorrer todos estes caminhos que vejo os céus a apagarem-se à minha passagem. É nos sonhos, quando me sento naquela esquina á direita da ruela, que descubro o avesso do mundo. Procurando um lado mais puro.
Ao longe, as aves rodopiam num símbolo de amor e vão de encontro com as nuvens. Eu estou ali mas ando a vaguear por outros pontos do globo, ao mesmo tempo; ninguém mais sabe.
Sou feita de sonhos que flutuam pelo ar, nada mais tenho para fazer de chão. Nestas caminhadas, entre ruas e ruelas agarro cada um deles e mil risadas no ar. Eu relembro, alguns vaguei-os onde a rua terminava numa porta mais alta que as árvores ao fundo dum beco. Sentada no chão, sentia-me como quando era muito pequena e não sabia o caminho para casa.
Vivo com vontade de devorar todas as parcelas da vida e confesso o meu medo de entregar o mundo que sempre quis salvar. O arrependimento senta-se comigo na cadeira de verga, fazendo-me sentir velha como aquelas que fumam cigarrilhas e relembram o passado ao sabor da nostalgia.
É no olhar para o céu que eu me reencontro, é a maré vaza que leva toda a minha tristeza, é devagar que me deixo planar no vazio da noite até tudo acalmar ao meu redor.
Guardo os dias no meu peito, agarro a vida nos braços, desamarro a solidão e vou de encontro com os sentidos.

quarta-feira, 4 de março de 2009

« não penses que a poesia, é só a caligrafia num perfeito alinhamento, as rimas são, assim como o coração.»

Deixando que o vento te leve, sem destino, Gaivota. Sobrevoando territórios conhecidos, girando, subindo e descendo. Melodias, sabor a maresia. Bailando suave, pensamento tranquilizado. Vago com espuma branca da onda enrolada na paixão e no pensamento. Perigo, barco à deriva. Cautela, barco ancorado. Vida sem destino.
Limite do infinito, horizonte de linha imaginável. Incansável aos bravíssimos marinheiros, indiscutível aos pensadores apaixonados.
Medonha vida, sempre questionável, interrogada. Bravos e bravíssimos os risonhos desta vida. Tranquilizados pelas gotas caídas, desfeitos pelas tempestades vindas.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Para vocês, que um dia já foram meus amigos.

- Não a consigo compreender. Ela sem dúvida que não era assim. O que será que se passa?
- Deixa-a em paz, ela saberá o que anda a fazer. Um dia quando precisar de nós eu já não vou estar aqui.
- Oh não digas isso. Eu gostava de a perceber.
- Não sejas tão ingénua, quando precisas dela, ela não está aqui, quem está? Eu. Por isso dá-me atenção a mim. E deixa-a no seu mundo.
- Talvez tenhas razão.


Os vossos diálogos nada me dizem. Não vivo no meu mundo como podem pensar, simplesmente só me dou a conhecer a quem se dá a conhecer a mim.
Outra realidade que o sonho despertou. Os outros podem ser melhores, mas eu cá saberei distinguir-me do rebanho. Acordar, vestir e caminhar até ao cubículo que nos ensinam alguma coisa para o nosso futuro. Bater o pé, bufar, respirar fundo e ter cara de frete, sempre á espera que a campainha toque, não é sem dúvida para mim. Serei muito mais que uma adolescente na carteira á espera que alguém a desperte. Eu despertei por mim. Não me olhem como estranha, como ridícula. Porque o rebanho é que é ridículo, é o único que não consegue sobreviver feliz nesta sociedade. O amanha pode não existir, por isso não vale de nada deixar as coisas para depois.
E no meu dia-a-dia, basta olhar para o lado para ver grupos de pessoas com códigos de barra, à espera que o amanha seja melhor que o de hoje. É por isso que me afasto de vocês, não tenho paciência para ser amanha. Quando se joga pelo seguro, como vocês, ser mal visto, nunca acontecerá. Serão sempre os bonzinhos que estão ali. Não arranjam confusão nem desarrumação na vossa mente. Mas, como existe sempre um mas, não serão certamente vocês. Não terão opinião ou naturalmente a vossa opinião será condescendente. Digam o que têm a dizer, os que vos aplaudirem vão vos achar lideres. O ser normal já ninguém suporta, retirem a vossa mascara e não joguem pelo seguro. Quem disse que sermos nós próprios não magoa os outros?
Se nasci, não é para lutar por um futuro melhor, não é para ser médica, ter dinheiro e ser o que a família espera de mim. Se nasci, é para lutar pelo hoje, é para trabalhar no que quero, o dinheiro virá depois como recompensa da minha luta pela felicidade e nasci para ser o que eu espero de mim.
E a vocês, que um dia já foram meus amigos, não se esqueçam que estão a fazer parte do rebanho.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A escrita dos meus dias

Uma folha com linhas azuis à espera de ser utilizada. Mas sempre que as palavras escritas não têm qualquer significância são esquecidas e absorvidas e a folha continua branca.
As palavras são teias de letras, todas têm um significado. Contudo nem sempre conseguem abandonar o nosso interior e permanecem amarradas como parasitas.
Escrevo todos os dias que passam, transformo a realidade, o presente em futuro, o passado em presente, transformo a minha realidade em histórias que me deixam sonhar e conhecer a pessoa que sou. Escrevo não para contar a minha vivencia mas para ir para o mundo imaginável, onde posso ser quem eu quiser. Posso-me abstrair do mundo exterior e sorrir. Sonhar mais uma vez. Para mim as palavras são muito mais que palavras, conseguem ser o transporte que me leva para o tal mundo imaginado onde eu sou a rainha da minha felicidade, onde consigo conhecer o interior dos meus olhos azuis. E por isso escrevo e continuarei a escrever… continuarei a sonhar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

«But on and on From the moment I wake...»

Rodeio de pessoas, rodeio de multidão. Unida pelos braços de amigos, unida pelos inimigos. O começo de uma carta por vezes é difícil mas escolher destinatário torna-se mais complicado. Quando a multidão nos agarra pelos braços ficamos aglomerados pela solidão.
Ao fundo da rua, no virar da esquina à esquerda a noite é fria. A noite é fria quando não encontramos a mão amiga. A noite é vazia quando o calor passa a não ser humano. Torna-se longa e sem caminho e as estrelas confundem-se com poeira e dor. A almofada torna-se o único recanto onde as lágrimas se evaporam, onde o coração descansa, onde o sono aparece entre o recto e o oblíquo do nosso peito.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A dança que dá energia para amanhã acordar

Barreira selada entre gestos de dança
A dança codificada entre ritmos
Será impossível alguém acompanhar e agarrar.

O espaço está desocupado e livre
Basta deslizar o pé e rodar a anca
Quebrar o silêncio com ritmos
Será impossível alguém atingir este patamar.

Suor quente e húmido escorre
Raiava e vontade de chorar é lançada num movimento de dança
O sorriso predominara, só vos deixando de pé atrás.

Corpo usado para movimentos improvisados
Acompanhada pelo compasso da musica envolvendo a expressão de sentimentos
Dança, escrever com o corpo
Alongar-se, encolher-se,
Rodopiar,
Inclinar.
Dançar, tocar música com gestos, com os pés
Mãos cintilantes que escrevem versos no ar…
Rosto parece cheio de luz
E não revela os sofrimentos
Nem os cansaços…

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A viagem que um dia me tornou rei da selva e da minha própria vida...

Era o pior dia da sua vida, não conseguia definir o seu estado. Como nunca lhe tinha ocorrido que um dia poderia ter que estar nesta despedida. Nunca desejou que este dia chegasse, talvez seja esta a razão. Enquanto era criança acreditava numa família, desejava-a. Passeava pela sua comunidade enquanto idealizava o seu futuro. Queria ter um filho, ensina-lo a caçar, ensinar a religião da vida, ensina-lo a sorrir e a ser o rei da sua própria vida. Mas hoje ela foi obrigada, a largar o seu filho pelas correntes do rio. Aperto no coração, sentimento de mãe.
Decidiu faze-lo ao por do sol, longe de toda a sua comunidade. Colocou-o numa cesta enquanto dormia, cobriu-o com amor, conforto e bem-estar, fazendo-o sentir-se amado e compreendido.
Ela era uma boa mãe, “comunicava poeticamente com o seu bebé”.
Sentia-se cada vez mais incompleta, enquanto via seu filho desaparecer, entre correntes, foi levado, até ficar numa margem fria, mas ao mesmo tempo sossegada.
Os elefantes todos os dias costumavam deslocar-se até ao rio mais próximo. Hoje, assim o fizeram. Uma fêmea encontrou o cesto e com a sua enorme tromba o agarrou. A tromba do elefante serve para sentir cheiros, defender-se, absorver a água, transportar alimentos, mas também serve para acariciar. Não compreendeu, mas sentiu o desespero da mãe que o largou nas águas á espera que alguém o encontrasse e lhe mostrasse o quanto a vida pode ser boa.
A criança cresceu na manada, dormia agarrada à sua mãe elefante e caminhava pela floresta em cima dela. Sentia se feliz com a sua família. Quando os seres humanos andavam á caça ele tentava protege-los e quando algum era atingido ele sofria como se lhe tivessem atingido o seu próprio coração.


Todos os dias ela ia refrescar-se ao riacho. Sempre á espera de um sentimento de paz, de um conforto, de aconchego, de uma energia que a fizesse acreditar que ele hoje seria o rei da selva ou o rei da sua vida.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Serei(a) unicamente do mar

Mar que afoga nas suas ondas, recolhe num abraço e leva ao colo como de criança.

Cumplicidade de maresia, identidade como respiração de brisa marinha e a agitação das ondas enrola cabelos em algas mais profundas. Resgata devagarinho suave mar, beija ligeiramente as curvas do corpo. Deixa-me ser totalmente tua, deixa-me pertencer a esse teu mundo salino. Recupera as mágoas e transforma-as em felicidades, canta aquele canto molhado e lindo, num vai e vem (des)conhecido.

sábado, 24 de janeiro de 2009

« Livre e verde a água ondula, Graça que não modula, O sonho de ninguém »

"(...)criarei um dia puro livre como o vento e repetido como o florir das ondas ordenadas."
O ar está quente a areia está a suar. Estamos descalços e a roupa é suave. O meu vestido cheio de cores solta-se no meu corpo e danço. As ondas quebram sem pedir licença e o jambé toca. Os olhares são de relance e despercebidos. Todos dançam sem pensar no amanhã, o segredo é deixar ser levado pela música. O som entra e não se pode deixar que ele desapareça, deixa-se que o corpo contorne as notas de música e refresca-se com um mergulho profundo. A mente é revigorada. O corpo perfeito que deambula como se tratasse de ramos de arvores verdes ao sabor do vento. Com esta delicadeza, a sublime faculdade de percorrer as notas musicas que nos leva a imaginar pedaços de vida irreais. O inacabamento do colar de missangas completa-se com o ritmo de timbais e do por de sol. Pessoas improvisam as notas e o som flui. Ao fim de algum tempo entende-se que não se conhecem. É mesmo assim, basta teres um jambé e entras no nosso mundo. Sentimento êxtase, completamente absorvidos. Vagueando ao sabor das brisas.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Caminho das almas

Era uma estrada onde o seu fim era inalcançável. Almas amarguradas caminhavam sem nenhum destino planeado. Cabeças rebaixadas num corpo desprotegido caminhavam sem saber qual a sua direcção. O caminho era estreito para tantas almas despedaçadas.
Era um prédio com uma universalidade de janelas inimaginável, cada uma com uma vida para ser descoberta. A noite aproximava-se e era fundamental que alguém acendesse a luz de cada uma. As almas necessitavam muito mais que um brilho vindo da luminosidade, era a hora de acordarem e rejuvenescerem.
Era uma menina que atravessava todos os dias a rua da vida com o almoço guardado. Ninguém sabia o que ela guardava dentro de si. Usando o mesmo vestido de à dias, ela escondia as feridas com linho e seda. As conversas divagavam, mas ela nada perguntava. Era difícil perceber a dor por de trás de uma mascara. Aguentar uma tempestade secreta.
À chuva e ao vento ela permaneceu, tornando-se forte como uma pedra, num mundo onde já não consegue revigorar. Os seus sonhos deram lhe assas para alcançar um lugar onde seria amada.
Menina de cabeça rebaixada, corpo desprotegido, alma despedaçada, coração partido que o mundo esqueceu...
volta.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Os estados do silêncio

Eu vi quando ela escreveu o nome dele e o seu número de telefone no mês de Janeiro, na sua agenda. Chamaram ao momento, despedida. Mas todo o mês de Janeiro o seu silêncio falava nele.
Foi no mês de Fevereiro que ela se arrastou na despedida, como caranguejo na maré vazia. Construiu caminhos, pontes e navios. Nada disto ele viu, nada disto lhe contou, nada disto era dele. Reconstruiu o banco de cal que tinha no seu jardim para contemplar o céu numa noitada onde a lua pousaria á noite. Que erro cometeu, todas essas noites recordava em silêncio aquele fim de tarde. Estavam os dois deitados na cama nus e tinham acabado de fazer amor. Um silêncio instalava-se, tão familiar, tão intimo, tão intenso, mais intenso do que tudo o resto. O silêncio de hoje era diferente, cinzento, aéreo, triste e desesperado. O silêncio colora-se de todas as infinitas tonalidades das nossas vidas.
No Outono, do ano passado, quando os pores de sol eram mais bonitos ela ia falar mesmo quando o sol ia atravessar a linha do horizonte. Com delicadeza ele colocou o indicador na boca. Que gesto bonito, o indicador sobe os lábios, usado desde a mais tenra idade.
E arrancou a página da sua agenda onde tinha o nome dele e o seu número. Veio a seguir Março e com ele apareceu a primavera. Viu os passarinhos saírem dos seus ninhos, reconstruiu melodias e viu aparecer as primeiras flores. Contemplou os dias ficarem mais longos e o sol mais radiante. E nada disto, jurou, ser dele.

“E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter.”

sábado, 10 de janeiro de 2009

Onda curiosa

É no mar alto que nascem as ondas, lá muito longe das praias. Um leve toque de vento e logo erguem cabeças curiosas. Mas é em terra que brincam, é em terra que aprendem a saltar pelos rochedos e a escorregar pelos areias.
Certa vez nasceu uma onda mais atrevida. Saltava mais alto, corria mais longe, trepava aos rochedos escarpados e era sempre a última a voltar para o mar.
Um dia, ajudada pelo vento a onda curiosa subiu mais, muito mais do que o costume e ficou por instantes suspensa no ar, pasmada com tudo o que via. Lá adiante, onde o areal se espraiava, havia crianças que brincavam num mar sereno como não se lembrava de alguma vez ter notado.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

«Mendigo dos meus olhos, porque tens medos, revela-me os teus segredos e não escondas essa face de mistério...»

Costumava-o encontrar na rua do costume, quando os ponteiros do meu relógio se juntavam e era essa a hora que dividia o dia entre manhã e tarde. Eu ficava a vê-lo vaguear pela rua, observava o supermercado e ao mesmo tempo o caixote do lixo. Chamavam-no morador de rua, mendigo e até sem abrigo. Eu gostava de o tratar por cidadão. Olhavam-no como se fosse um corpo estranho no caminho. E com todos aqueles olhares intimidadores da sociedade até eu ficava amedrontada, que vontade tinha de expressar a minha opinião. Um cidadão como os outros, com os seus direitos, direito de utilizar os espaços públicos, de deambular nas ruas, de se sentar nos parques, de abordar e falar aos passeantes, ou de se sentar tranquilamente num estabelecimento para tomar um café.
Ficava a vê-lo desaparecer rua abaixo, a desejar que existisse alguma alma, em alguma parte do mundo, capaz de o consolar.
Senti o meu corpo necessitar de alimento e não hesitei em entrar no supermercado. Toneladas de alimento estavam ao meu dispor e outras mais dentro do armazém à espera de um lugar na prateleira. Com tanta comida à nossa volta parece mesmo impossível que exista pessoas a morrer à fome, mas esquecemo-nos que para entrar naquele supermercado necessitamos de uma senha a que chamamos dinheiro.
A fome passou-me e reparei que não se tratava de fome mas uma vontade de comer. Sentei-me num banco do jardim e reparei no hospital que estava bem ao longe. Perguntei-me a mim mesma o que me aconteceria se partisse uma perna. Alguém iria chamar uma ambulância, que me transportaria até ao hospital onde seria tratada por um médico que estudou toda a sua vida para tratar corpos partidos. Seriam simpáticos comigo e se tivesse que ficar internada seria visitada pela minha família. Agora, porque é que as pessoas com problemas cerebrais vão ser tratadas de maneira diferente. As causas dos sem abrigo são disfunções cerebrais. Quer se trate de um caso de maníaco depressão, esquizofrenia, alcoolismo, comportamento anti-social, falta de gestão financeira, o problema está dentro do cérebro da pessoa. Ajudar a recuperar este mau funcionamento do cérebro levaria a uma diminuição de ‘moradores de rua’.
Mas não fazemos isso. Quando vemos um ‘mendigo’ o que acabamos por fazer? Lançar olhares intimidadores?


Perdi-lhe o rasto no dia que esta calçada deixou de me pregar partidas.
"Renasces nos becos, nas ruas
Alimentas-te da solidão e da esperança
Teus sonhos são escassos
Tua vida é inútil, aos olhos dos que não te entendem
Tua imagem reflecte-se
Nos rios da cidade
Nas sombras das esquinas e
Nos bancos solitários"

sábado, 3 de janeiro de 2009

«She walked by the ocean, And waited for a star, To carry her away...»

Quando chegamos a casa e sentimos que perdemos um ombro amigo, a vida passa a ser feita em noite, mesmo para quem tem medo do escuro. Dias a caminhar descalça por chãos alcatifados de estrelas desapareceu. Aquele sol que brilhava no azul imaginário desapareceu, e ninguém me conseguiu mostrar a magia de um dia chuvoso. Comigo tenho sempre o arco-íris ao pescoço, destoa no meio de tanta escuridão, contudo eu ainda acredito que me poderá aquecer. E, quando o ombro amigo desaparece, a única maneira de acreditar nos dias é abrir a minha caixa de recordações. Uma pilha de cartas, que guardo desde sempre, existe uma no meio de tantas, especial. Sempre que a releio, recordo-me como se fosse hoje a chegar ás minhas mãos, entre desejos, sonhos e idealizações. É uma recordação tocável do meu amor imaginário. Como é estranho, sempre que a releio, parece que ele está aqui tão perto, a dizer-me aquelas palavras, a fazer-me aquelas perguntas, a desejar tanto aquele abraço.
Mas em dias como este em que não temos o ombro amigo e que parece que o sol não despertou para nos dar um dia feliz, apetece-me ter uma voz doce a dizer baixinho ao meu ouvido:
Shhhh… não tenhas medo do escuro. No escuro também estão as tuas fadas, as tuas magias, só que como em todo o lado as luzes também se apagam e todos precisamos de descansar. (Eu sei que tu não sabes, mas as fadas, as magias e mesmo os teus sonhos, também precisam de dormir). Fecha os olhos e descansa. Relembra o sorriso dos teus amigos. Aprecia o amor tão forte que quase se toca. Sente-o a fazer-te festinhas nos dedos dos teus pés, enquanto adormeces.
Deita fora o coração machucado e pinta um novo, ainda mais bonito. E acredita mesmo que amanha acordes sem ter os lábios dele nos teus, a mão dele na tua, vais ter uma noite feliz.
"Rosie, como with me. Close your eyes... and dream."

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Essência

O mundo sucumbiu. Mas não penses que eu vou ficar desorientada. Eu sei bem andar em cima dos entulhos. Como eu sei curar as feridas que ardem. Por vezes parece que o tempo não chega, para quem quer descobrir a essência das coisas. É raro, alguém sentir que o tempo corre depressa quando esta num centro de pesquisas. As pessoas estão habituadas a ficar pela superficialidade da matéria. Não estou disposta a sentir que não pesquisei o essencial para apresentar as minhas teses com argumentos válidos. Tenciono conseguir sustentar os meus pontos de vista, apesar de muitas pessoas confundirem argumentar com discutir, não se trata disso, são palavras completamente antónimas. Quantas pessoas já me mandaram calar, a dizer que era inútil e desagradável, talvez por não entenderem que argumentar não é discutir. Discutir podemos dizer que se trata de uma discussão verbal enquanto argumentar é oferecer dados favoráveis a uma questão.

Deixa-me argumentar.