"Não há grandes poetas nem grandes poemas; há palavras que nos agarram no momento certo. só isso."

Gil T. Sousa


domingo, 10 de maio de 2009

Marinheiro dos sonhos

Na noite adormecida ela dançava como bailarina. A melodia do vento enchia o seu corpo, sentia-se bailarina sem nunca ter bailado ao som de um acorde. Quando o seu corpo não aguentava mais nenhuma rodada no vazio, encostava-se á parede fria da sua sala. Imaginava o seu marinheiro de sonhos a chegar de uma noite fria e inquieta. Teria ela medo de sozinha se deitar na sua cama. Nunca perdeu aquele medo de pequena, encontrar o bicho papão debaixo da cama. Então dançava pela escuridão da noite a dentro à espera que a luz da madrugada deixasse visível cada passo cada gesto, recolhendo-se então para sua cama. Sempre acreditou que a luz da noite trazia o bicho papão para debaixo da cama e com o raiar do dia ele desaparecia.
E encostada à parede fria ela continuava a pensar no seu marinheiro de sonhos. Não se importava das suas mãos ásperas de tanto trabalhar ou dos rasgões de anzóis ancorados na pele queimada de tanto sol apanhar.
Nos primeiros raios da madrugada recolhia-se então para os seus lençóis cor do mar e com a sua almofada acreditava que um dia nessa mesma almofada iria encontrar um pouco de sal da noite passada com o seu marinheiro de sonhos.

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