"Não há grandes poetas nem grandes poemas; há palavras que nos agarram no momento certo. só isso."

Gil T. Sousa


sábado, 28 de fevereiro de 2009

Para vocês, que um dia já foram meus amigos.

- Não a consigo compreender. Ela sem dúvida que não era assim. O que será que se passa?
- Deixa-a em paz, ela saberá o que anda a fazer. Um dia quando precisar de nós eu já não vou estar aqui.
- Oh não digas isso. Eu gostava de a perceber.
- Não sejas tão ingénua, quando precisas dela, ela não está aqui, quem está? Eu. Por isso dá-me atenção a mim. E deixa-a no seu mundo.
- Talvez tenhas razão.


Os vossos diálogos nada me dizem. Não vivo no meu mundo como podem pensar, simplesmente só me dou a conhecer a quem se dá a conhecer a mim.
Outra realidade que o sonho despertou. Os outros podem ser melhores, mas eu cá saberei distinguir-me do rebanho. Acordar, vestir e caminhar até ao cubículo que nos ensinam alguma coisa para o nosso futuro. Bater o pé, bufar, respirar fundo e ter cara de frete, sempre á espera que a campainha toque, não é sem dúvida para mim. Serei muito mais que uma adolescente na carteira á espera que alguém a desperte. Eu despertei por mim. Não me olhem como estranha, como ridícula. Porque o rebanho é que é ridículo, é o único que não consegue sobreviver feliz nesta sociedade. O amanha pode não existir, por isso não vale de nada deixar as coisas para depois.
E no meu dia-a-dia, basta olhar para o lado para ver grupos de pessoas com códigos de barra, à espera que o amanha seja melhor que o de hoje. É por isso que me afasto de vocês, não tenho paciência para ser amanha. Quando se joga pelo seguro, como vocês, ser mal visto, nunca acontecerá. Serão sempre os bonzinhos que estão ali. Não arranjam confusão nem desarrumação na vossa mente. Mas, como existe sempre um mas, não serão certamente vocês. Não terão opinião ou naturalmente a vossa opinião será condescendente. Digam o que têm a dizer, os que vos aplaudirem vão vos achar lideres. O ser normal já ninguém suporta, retirem a vossa mascara e não joguem pelo seguro. Quem disse que sermos nós próprios não magoa os outros?
Se nasci, não é para lutar por um futuro melhor, não é para ser médica, ter dinheiro e ser o que a família espera de mim. Se nasci, é para lutar pelo hoje, é para trabalhar no que quero, o dinheiro virá depois como recompensa da minha luta pela felicidade e nasci para ser o que eu espero de mim.
E a vocês, que um dia já foram meus amigos, não se esqueçam que estão a fazer parte do rebanho.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A escrita dos meus dias

Uma folha com linhas azuis à espera de ser utilizada. Mas sempre que as palavras escritas não têm qualquer significância são esquecidas e absorvidas e a folha continua branca.
As palavras são teias de letras, todas têm um significado. Contudo nem sempre conseguem abandonar o nosso interior e permanecem amarradas como parasitas.
Escrevo todos os dias que passam, transformo a realidade, o presente em futuro, o passado em presente, transformo a minha realidade em histórias que me deixam sonhar e conhecer a pessoa que sou. Escrevo não para contar a minha vivencia mas para ir para o mundo imaginável, onde posso ser quem eu quiser. Posso-me abstrair do mundo exterior e sorrir. Sonhar mais uma vez. Para mim as palavras são muito mais que palavras, conseguem ser o transporte que me leva para o tal mundo imaginado onde eu sou a rainha da minha felicidade, onde consigo conhecer o interior dos meus olhos azuis. E por isso escrevo e continuarei a escrever… continuarei a sonhar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

«But on and on From the moment I wake...»

Rodeio de pessoas, rodeio de multidão. Unida pelos braços de amigos, unida pelos inimigos. O começo de uma carta por vezes é difícil mas escolher destinatário torna-se mais complicado. Quando a multidão nos agarra pelos braços ficamos aglomerados pela solidão.
Ao fundo da rua, no virar da esquina à esquerda a noite é fria. A noite é fria quando não encontramos a mão amiga. A noite é vazia quando o calor passa a não ser humano. Torna-se longa e sem caminho e as estrelas confundem-se com poeira e dor. A almofada torna-se o único recanto onde as lágrimas se evaporam, onde o coração descansa, onde o sono aparece entre o recto e o oblíquo do nosso peito.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A dança que dá energia para amanhã acordar

Barreira selada entre gestos de dança
A dança codificada entre ritmos
Será impossível alguém acompanhar e agarrar.

O espaço está desocupado e livre
Basta deslizar o pé e rodar a anca
Quebrar o silêncio com ritmos
Será impossível alguém atingir este patamar.

Suor quente e húmido escorre
Raiava e vontade de chorar é lançada num movimento de dança
O sorriso predominara, só vos deixando de pé atrás.

Corpo usado para movimentos improvisados
Acompanhada pelo compasso da musica envolvendo a expressão de sentimentos
Dança, escrever com o corpo
Alongar-se, encolher-se,
Rodopiar,
Inclinar.
Dançar, tocar música com gestos, com os pés
Mãos cintilantes que escrevem versos no ar…
Rosto parece cheio de luz
E não revela os sofrimentos
Nem os cansaços…

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A viagem que um dia me tornou rei da selva e da minha própria vida...

Era o pior dia da sua vida, não conseguia definir o seu estado. Como nunca lhe tinha ocorrido que um dia poderia ter que estar nesta despedida. Nunca desejou que este dia chegasse, talvez seja esta a razão. Enquanto era criança acreditava numa família, desejava-a. Passeava pela sua comunidade enquanto idealizava o seu futuro. Queria ter um filho, ensina-lo a caçar, ensinar a religião da vida, ensina-lo a sorrir e a ser o rei da sua própria vida. Mas hoje ela foi obrigada, a largar o seu filho pelas correntes do rio. Aperto no coração, sentimento de mãe.
Decidiu faze-lo ao por do sol, longe de toda a sua comunidade. Colocou-o numa cesta enquanto dormia, cobriu-o com amor, conforto e bem-estar, fazendo-o sentir-se amado e compreendido.
Ela era uma boa mãe, “comunicava poeticamente com o seu bebé”.
Sentia-se cada vez mais incompleta, enquanto via seu filho desaparecer, entre correntes, foi levado, até ficar numa margem fria, mas ao mesmo tempo sossegada.
Os elefantes todos os dias costumavam deslocar-se até ao rio mais próximo. Hoje, assim o fizeram. Uma fêmea encontrou o cesto e com a sua enorme tromba o agarrou. A tromba do elefante serve para sentir cheiros, defender-se, absorver a água, transportar alimentos, mas também serve para acariciar. Não compreendeu, mas sentiu o desespero da mãe que o largou nas águas á espera que alguém o encontrasse e lhe mostrasse o quanto a vida pode ser boa.
A criança cresceu na manada, dormia agarrada à sua mãe elefante e caminhava pela floresta em cima dela. Sentia se feliz com a sua família. Quando os seres humanos andavam á caça ele tentava protege-los e quando algum era atingido ele sofria como se lhe tivessem atingido o seu próprio coração.


Todos os dias ela ia refrescar-se ao riacho. Sempre á espera de um sentimento de paz, de um conforto, de aconchego, de uma energia que a fizesse acreditar que ele hoje seria o rei da selva ou o rei da sua vida.