"Não há grandes poetas nem grandes poemas; há palavras que nos agarram no momento certo. só isso."

Gil T. Sousa


domingo, 29 de março de 2009

o amor entre almofadas

Foram muitas as vezes que me disses-te: os teus olhos são como o oceano. Sempre acreditei. Acreditei porque ao teu lado tudo é possível.

A felicidade tem a temperatura do teu colo. A chuva a fechar a noite, os cobertores a aquecerem-nos o coração. A tua mão no meu cabelo. O mar podia entrar agora pelo chão da sala, invadir o sofá, que nem assim eu acordaria.

sábado, 28 de março de 2009

Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo


Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo
é tudo serem para mim estradas largas
estradas onde passa o sol poente
é o tempo parar e eu próprio duvidar mas sem pensar
se o tempo existe se existiu alguma vez
e nem mesmo meço a devastação do meu passado

Imagem: Sebastien Maziére

Poema: Ruy Belo

domingo, 15 de março de 2009

Quando as personagens ganham vida

Na noite quente de inícios de primavera, a janela do quarto semiaberta deixa entrar ares que beijam a minha face. Descubro a vida das personagens das minhas histórias de encantar. É nestas noites que consigo sentir o coração deles a bater, os seus medos e anseios. Deixam de ser meros produtos da imaginação, eles ganham vida própria como bolhas de sabão que se desprendem do criador e alçam vôo na atmosfera, até que estouram e desaparecem, como ocorre com o final de um livro.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Tiradas pelas ruas e ruelas da minha existência

Era fim do dia e nas ruas estreitas, onde as casas seguram o céu, as caras de sempre têm dias sorridentes e outros sisudos porque dias felizes e tristes, todos têm. Em todas as calçadas da vila as sombras estavam reflectidas. É a percorrer todos estes caminhos que vejo os céus a apagarem-se à minha passagem. É nos sonhos, quando me sento naquela esquina á direita da ruela, que descubro o avesso do mundo. Procurando um lado mais puro.
Ao longe, as aves rodopiam num símbolo de amor e vão de encontro com as nuvens. Eu estou ali mas ando a vaguear por outros pontos do globo, ao mesmo tempo; ninguém mais sabe.
Sou feita de sonhos que flutuam pelo ar, nada mais tenho para fazer de chão. Nestas caminhadas, entre ruas e ruelas agarro cada um deles e mil risadas no ar. Eu relembro, alguns vaguei-os onde a rua terminava numa porta mais alta que as árvores ao fundo dum beco. Sentada no chão, sentia-me como quando era muito pequena e não sabia o caminho para casa.
Vivo com vontade de devorar todas as parcelas da vida e confesso o meu medo de entregar o mundo que sempre quis salvar. O arrependimento senta-se comigo na cadeira de verga, fazendo-me sentir velha como aquelas que fumam cigarrilhas e relembram o passado ao sabor da nostalgia.
É no olhar para o céu que eu me reencontro, é a maré vaza que leva toda a minha tristeza, é devagar que me deixo planar no vazio da noite até tudo acalmar ao meu redor.
Guardo os dias no meu peito, agarro a vida nos braços, desamarro a solidão e vou de encontro com os sentidos.

quarta-feira, 4 de março de 2009

« não penses que a poesia, é só a caligrafia num perfeito alinhamento, as rimas são, assim como o coração.»

Deixando que o vento te leve, sem destino, Gaivota. Sobrevoando territórios conhecidos, girando, subindo e descendo. Melodias, sabor a maresia. Bailando suave, pensamento tranquilizado. Vago com espuma branca da onda enrolada na paixão e no pensamento. Perigo, barco à deriva. Cautela, barco ancorado. Vida sem destino.
Limite do infinito, horizonte de linha imaginável. Incansável aos bravíssimos marinheiros, indiscutível aos pensadores apaixonados.
Medonha vida, sempre questionável, interrogada. Bravos e bravíssimos os risonhos desta vida. Tranquilizados pelas gotas caídas, desfeitos pelas tempestades vindas.