"Não há grandes poetas nem grandes poemas; há palavras que nos agarram no momento certo. só isso."

Gil T. Sousa


domingo, 26 de abril de 2009

Viajante sem mala nem mapa

Divagar no puro sentimento como navio no imenso mar.
No vaguear da noite encontra-se o verdadeiro sentimento, absorvido pela raiz dos sonhos. O corpo cansado, do dia recordado nesta noite cerrada, que se sente a claridade. A valsa dos sonhos é então dançada, com os acordes do coração.
É então, que os sonhos começam a comandar a vida como criança que pula com balões na mão. Na ausência de vozes, de barulhos excessivos e do ruído de todos os dias que se ama a quietude das coisas, o som do vento, o vagar do mar, o fim da tarde, o torpor do poente.
Do imenso terraço onde não chegam vozes e o silêncio se estende sobre as coisas, vê-se o infinito. Um mundo de luz e sombras que se desvanece até ninguém poder dizer onde acaba a terra e começa o céu.
É um viajar no tempo, onde o tempo nem sequer tem horas. É um viajar sem mapa, procurando o desconhecido sentido, destino.
Uma fuga desenfreada e uma pressa incompreensível, desatada numa correria. Um medo como veia dilatada, aparece depois da coragem de se levantarem. Ter a certeza de alguma coisa é extremamente impossível. Tudo é possível e tudo é permitido, tudo sucede em alternância. Abre se a porta para a viagem, decifrando a matéria que é mais do que matéria, a que chamamos corpo. E querendo acreditar na voz que nos canta às escuras até adormecermos.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tranquilidade do final da tarde

Derramar da alma no desembruxar da onda
Planície de areia
Com ervas rasteiras num voo ritmado
Onde o vento quebra ligações.
Uma espera contínua
Pela primeira estrela, reflectida
No luar como sol no mar
Reflexo de espelho
Perfumado de natureza rara.
Um ir e vir
Sem hesitação
Arrastando areias
Cintilantes
À procura de novos caminhos.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Por favor, o teu «para sempre» diferente de todos os outros

Não é um ano, nem dois ou três
Não quero este tipo de para sempre
Para sempre, que aparece no inicio
Mas nunca vem num final
É um para sempre das tuas palavras
Por favor, o teu para sempre.

Todos perdem muito tempo
Às voltas na cidade
Deixando voar os seus para sempre
Mas eu não quero que isso me aconteça
E agora espero poder encontra-lo em ti
É um para sempre das tuas palavras
Por favor, o teu para sempre.

Como um relógio sem ponteiros
Infinito tempo
Para sempre, sempre aparece no início
Mas nunca vem no final.
É um para sempre das tuas palavras

Por favor, o teu para sempre.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Hora de ponta com colisão de corpos

Alguns ainda deixam seus carros amarrados ao cais deixando-se levar pelas linhas cinzentas onde o metro percorre dias sem conta.
Desenho as alçadas do teu corpo entre os carris.
Outros preferem a condução do próprio veículo, esquecendo-se da condução dos seus sentimentos.
Cumprir os acabamentos teus de aço polido no meu alcatrão duro. É um ir atrás, deixando tudo a monte e depois arrasar a terra, planar e planear. É abraçar-te sem ninguém perceber quando passarmos entre gentes, despercebidos. E iluminar as linhas cinzentas e indígenas do nosso metro.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

o tempo errado dos amores

Sonhos de criança no bolso da bata aos quadradinhos.
Correria nos recreios, princesa e príncipe nos jogos da escola.
Cartas amorosas escondidas.

Sonhos na palma da mão, como se fosse balões presos por fios de prata.
Criança pequena sem desejo de o ser, com meia dúzia de sonhos tolos na mão
Descoberta do paralelismo entre o choro e o sal.

Criança cresce, suas mãos também e há uma maior capacidade para
segurar os sonhos.
Desejado pela criança nascida, indesejada para crescidos.

É uma descoberta do coração mais pequeno para os sonhos e maior para os medos.
Sonhos deixam de ser balões.
Desejo dos sonhos de novo na bata aos quadradinhos.
A pergunta ficará,
Como é que a criança com a sua mão tão pequena segura muitos mais sonhos que a vossa?

Silêncio como resposta, só provocará sorriso triste à criança que já esteve em vós e
estará…

Ela estará sempre a acreditar que entre o correr silencioso de uma lágrima, podemos sempre encher mais balões.

terça-feira, 7 de abril de 2009

amor...

"...fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor. eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer. o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos. o amor é ter medo e querer morrer..."

J.P

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Menina tradição

A dança da roupa com o vento perfuma o recanto com o sabão tão natural da minha infância. Degrau a degrau é uma doméstica correria. Com o “pico pico maçarico quem te deu tamanho o bico” nas lembranças do meu Minho e a cafeteira com café ainda a ferver molho o biscoito e numa trinca saboreio a nossa senhora florescente e muitas fotografias a preto e branco ao lado da prateleira.
Em cima da mesa está uma única peça de roupa, amarelada de tanto tingir, para mais tarde remendar. Talvez depois de um final feliz da telenovela que aquece as rugas de tardes inteiras a cavar e a semear em cada estação vinda.
Num corococó, vindo de lá de fora da minha infância, acordo e fujo sem ninguém dar conta. Consome-me já uma saudade melancólica da tradição que existe à minha volta, como a falta que se sente de alguém que se sabe que se vai perder, mesmo ainda não o tendo, de facto, perdido e ainda o tendo nos braços.

Quando sorris os teus olhos parecem infinitos campos verdes

O pôr-do-sol aproximava-se como naquele dia que ficamos sentados à sua espera. Aquela hora do dia era tão perfumada tão reflectida. Parávamos e contemplávamos o reflexo da nossa felicidade. Beijavas-me, abraçavas-me e tornávamo-nos únicos. Entre os últimos raios que conseguiam ultrapassar a linha do horizonte eu olhava para ti. A beleza dos teus olhos fechados, das tuas pestanas negras e compridas, não cabe nas palavras.
Estava a olhar para o reflexo em que dias meus cobriram a minha pele em mil sóis.
No meu quarto a janela está semiaberta à espera de um clarão na escura madrugada. Acordo muitas noites com barulhos, vindos de lá de fora, imagino a tua subida pelas grades acima. Depois de uma espreitadela vejo um gato a virar a esquina. E as estrelas caem e vão para a gaveta. E os monstros escondem-se no meu armário.
Como numa historia de encantar, eu deixo a janela aberta à espera que o príncipe entre e me prometa felicidade para sempre. "Porque é que nas histórias de Príncipes e Princesas nunca contam o medo que ambos sentem com a possibilidade de se perderem?"

Mil e um beijos quero de ti. Deita-te a meu lado, rasguemos a noite com os nossos corpos. Nem os lírios têm olhos tão doces, afagarei os teus com os meus dedos, e adormeceremos na certeza da perfeição.

domingo, 5 de abril de 2009

Sinto-me fria


Afastaste-te de mim
e levaste o sol contigo

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A rainha e a corte real aplaudiu, adorou... mas eu só quero o meu troféu de volta


Pesquisando como serei, sozinha, a rainha do meu coração. Ontem, no meu sonho, encontrei o bom amor. E o meu coração pegou fogo como uma casa, onde o bombeiro corre para o apagar. No sonho, foi o mágico que socorreu e apagou as chamas vermelhas. O troféu que eu fiz para nós de pele de animal e ouro foi vendido, caiu em mãos erradas. E todo o homem que o tocou achou um paraíso na terra.
Paraíso é um sentimento que eu sinto nos teus braços.
Eu desejo o nosso troféu de volta. Não para vender, mas para colocar no meu coração e ambos podermos admirar.
Photograph: Sarah Lee