"Não há grandes poetas nem grandes poemas; há palavras que nos agarram no momento certo. só isso."

Gil T. Sousa


sexta-feira, 25 de julho de 2008

«E eram os brancos da sombra nascidos do mar pelas naus, Guiados pelos ventos do céu e pelo voo das aves.»

“Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Acordei com o barulho da chuva. Tinha a janela aberta da noite quente que estava. Espreguicei-me. Enrolei-me no lençol e olhei para o telemóvel. Podia ser que naquela noite te lembrasses de mim, mas pareceu que não, a caixa de correio estava vazia.
Levantei-me e senti a brisa matinal. Apreciei o cinzento do céu, do mar e a transparência das gotas de chuva. Pensava em ti.
Com um chá quente na mão, sentada na pedra do jardim abrigada da chuva, a brisa caminhou até mim enroscando-se por detrás do pescoço conseguindo levantar o meu cabelo. Arrepiei-me.
Apesar da chuva o dia não estava frio. E fui passear pela areia molhada, moldei as minhas pegadas que mais tarde o mar as levou. Parece que as guardou como se fosse um segredo só nosso e mais ninguém tivesse o direito de as apreciar. Notei que não foram só as minhas que ele guardou. As pegadas de um pardal que pousou também foram levadas, entre correntes, marés e maresias.

"Um eléctrico cheio
Uma voz de permeio vai chover
Bate forte a saudade
Como é grande vontade de te ver"

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Um amor como o do Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

«Murmurações: Onde já se viu uma coisa igual? Uma andorinha, da raça volátil das andorinhas, namorando com um gato, da raça dos felinos?»

Amor aquele que percorreu todas as estações do ano num curto espaço de tempo. A primavera, conseguiu de nós sorrisos de felicidade e consegui ler uma história de amor. Para ser sincera o Verão foi curto, passou depressa. É sempre rápido o tempo da felicidade. Digamos que o Tempo é um ser difícil, dias em que foge às pressas e outros que escoa moroso.
Outono chegou mais cedo do que esperava. Rompendo a nossa união. E a alegria deu lugar à tristeza.
Luto todos os dias para o Inverno não chegar. Não quero ter a confirmação que o nosso amor é impossível.
"Pata com pato, pomba com pombo, cadela com cão, galinha com galo, andorinha com ave, gato com gato." Será esta a lei da vida? (Não a queres quebrar?)
E o que sinto por ti, será mesmo amor impossível?


“O mundo só vai prestar
Para nele se viver
No dia em que a gente ver
Um maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e Dona Andorinha”

domingo, 20 de julho de 2008

« como a queda dum sorriso p'lo canto triste da boca, neste vazio impreciso só a loucura me toca. »

Amanheceu com neblina matinal. Desprotegida compreendi que te tinha perdido o rasto e a cidade tornou-se vaga. Com pessoas com belos sorrisos, mas mortas, com recordações que bóiam no rio Lima.
«Esperei por ti todas as horas. Frágil sombra olhando o cais. Mas mais triste que as demoras. É saber que não vens mais.»


Costumava mandar-lhe uma mensagem de 'Bom dia’, à espera de um convite. Só quando ele queria ter a certeza que não ficaria em casa, quando ele não queria largar o nosso encontro ás mãos do acaso, a mensagem chegava brilhante e esplêndida. E as bolas de cristal ocupavam o lugar dos meus olhos.
Caminhava sozinha entre ruelas e avenidas para conseguir alcançar o momento de te ver sentado de costas, como uma criança a pensar no seu mundo ideal. Quando me via abraçava-me. Ele era 'grande' e os seus braços abrangiam o meu corpo por inteiro e enterrava a minha cara em seu peito. Como era bom sentir-me protegida.
Dava-me a mão para atravessar aquela corrente, aquele tumulto de gente. Gostava de ouvir o mar, apreciar a brisa despertar e sentir a areia. Por isso era para onde caminhávamos, entre conversas. Ele falava muito, era uma alma solitária, repleta de misticismo, com uma vontade gigante de exacerbar toda a complexidade do mundo. A mim, só me competia a tarefa de o ouvir e deixar descansar.
Enquanto o sol hesitava entre acompanhar-nos ou deixar-nos, despertávamos sentimentos, riamos e chegávamos a chorar.
Deitados na areia, com os olhos fechados, sentíamos a respiração um do outro. E quando os abria dava com ele a olhar para mim. "És linda..."

Perdi-lhe o rasto, hoje sou eu que estou sentada de costas como uma criança a pensar num mundo ideal.

"Nunca deixei de te ouvir"

"Nunca deixei de te ouvir,
murmuras-me como a água do mar,
oiço-te na noite,
durante os dias.
Tens o sabor da água salgada
és como um farol longínquo
de luz dispersa na névoa.
Eu, ainda mergulho em ti
faço-me à areia e olho-te de perto
és como um sopro de espuma salgada
que me acaricia a pele e solta o teu sabor
de praia ao luar d'uma noite quente,
e às escuras há um caminho em mim
sempre para ti."
Rui Miguel S F
Posso despertar o riso ou o escárnio, ser de pouco valor. Insignificante.
Mas tu nunca irás saber.

sábado, 19 de julho de 2008

9,8,7,6,5,4,3,2,1

Mergulho no mar e acredito que posso ser feliz.





Quando apareceres já mergulhei. E nunca mais me vais encontrar.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Procurei por ti no forte

Alguma coisa me fez acreditar que te podia encontrar no forte. Chegaste a dizer que era fácil atravessar as correntes do oceano, contudo eu achava impossível. Hoje acreditei na tua palavra e atirei-me para a água salgada, deixei de lado a teoria e caminhei até á prática. Lembrei-me das técnicas que me ensinaste para lá chegar e cheguei. Como era bonito ver os nossos locais noutra perspectiva. Mas, naquele momento isso não importava, encontrar-te era o meu ideal. Corri á volta do forte á tua procura. Quando o frio me contagiou, sentei-me na areia molhada e pensei: talvez se fizesse uma fogueira e tivesse uns morangos com chocolate tu aparecesses.
Lá estava eu mais a fogueira, os morangos mas sem ti.
Não sei se estiveste lá, adormeci com a solidão naquele confortável clima.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Pegadas apagadas

Os locais continuam no mesmo sitio, o sol continua a brilhar, o mar continua com aquela liberdade que nos dava conversa durante o dia, os passaros continuam a cantar e a pousar na areia como se nao tivesse acontecido nada.
Ninguem se lembra de nada, ninguem sabe de nada, secalhar tudo passou de um sonho e eu hoje acordei e reparei que não estavas aqui.
Corri até á praia para encontrar as nossas pegadas, mas não encontrei. Deitei-me na areia, fechei os olhos e lembrei-me do momento. Acreditei que quando abri-se tu estavas deitado a olhar para mim. Senti algo ao meu lado e depressa abri os olhos e reparei que era o pardal.